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Showing posts from June, 2022

Em jeito de Despedida

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  EM JEITO DE DESPEDIDA... Aos meus alunos do 12.º ano Não há nada mais triste que uma ausência (...), só fica uma pungente melancolia, esta que faz (...) sentar ao cravo e tocar um pouco, quase nada, apenas passando os dedos pelas teclas como se estivessem olhando um rosto quando já as palavras foram ditas ou são de menos.   José Saramago, Memorial do convento   Em conformidade com o desafio que me foi colocado, venho apresentar em retrospetiva alguns momentos que caracterizaram estes três anos de convívio e partilha de conhecimentos e de afetos com a turma de artes. Em setembro de 2019, conheci a maioria dos alunos que faz parte desta turma. Como em qualquer início de ano letivo, o meu estômago torcia-se de perturbação e nervosismo e a voz não obedecia à minha vontade de demonstrar segurança e clarividência. Tinha à minha frente um grupo de gente desconhecida. Não lhes sabia as vidas, os modos, os gostos. Tentava sondar os verdadeiros seres escondidos em cada rosto… Em 33 a

A uma Senhora das Artes...

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 Para a Cristina... (Porque é véspera de S. João e data do seu aniversário) De olhar claro, sem mágoas, sustentado com firmeza, Passo curto de rainha, pés ligeiros de princesa, Aracne, livre e serena, tecelã rival de Atena, Mulher sempre menina com frescura de açucena! No pente, enlaça os fios e a trama vai formar, Com trapilhos coloridos, bate bem o seu tear. Entre as telas de uma vida, borda feitos imortais, Transforma a névoa de sonhos em texturas magistrais… De papel germinam flores, origamis de mil cores revolitam pelo ar…                    E, dos nós, recria pontes, ilumina os horizontes E caminhos por achar…   Ermesinde, 23 de junho de 2021                    

Em terras ancestrais

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Em terras ancestrais... Rio Douro, Miradouro de Ujo Qu em passa para lá do Marão ascende a um paraíso feito de fragas sobre fragas, como se os gigantes, filhos irreverentes de Geia, irrompessem do seu ventre para eternizar, na recordação dos tempos, a efémera e trágica condição humana. Ermesinde, 2 de janeiro de 2021

Simplesmente Maria

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  SIMPLESMENTE … MARIA! As fotografias fazem viver dentro de nós momentos únicos, retalhos de vida, emoções fortes ou melodramas pessoais. Fazem-nos conhecer, talvez, algumas circunstâncias contidas apenas na memória de quem as vivenciou. Naquela tarde, quando o outono anunciava chuva e o aconchego apetecia, abri a gaveta que alberga um amontoado de estórias de outros tempos e recolhi uma gravura que pertencera à minha avó paterna Virei o verso da estampa e reparei que tinha a data de 1961, quando o filho mais velho partira para a guerra do ultramar. A ternura do abraço do filho que elevava a mãe era surpreendente para mim. A avó Maria viera despedir-se do primogénito, antes de este entrar para o navio, que o levava para combater os “turras” e iria fazer parte do primeiro grupo de paraquedistas na guerra de Angola. Seria um espaço de entendimento, de conjugação do amor entre mãe e filho que sempre existiu na alma de cada um, mas não na comunicação dos afetos. Lembro-me do recon