Lili era uma miúda tímida e sonhadora que gostava de percorrer os campos cobertos de flores, ouvir os chilreios dos pássaros, na Primavera, de vigiar as estrelas e desvendar as suas histórias, nas noites cálidas de Verão. Havia uma estrela muito especial, mais brilhante que todas as outras, que piscava para ela como se guardasse um segredo. Todas as noites, deitada na relva, contava-lhe as suas aventuras e os seus desejos mais profundos: ser corajosa, conhecer outros mundos e, quem sabe, encontrar a magia que só existia nos livros antigos do avô Ernesto. Numa dessas noites, enquanto o céu se cobria de constelações, uma brisa morna soprou e uma luz suave desceu do firmamento. Era um fio prateado, quase invisível, que descia até tocar em Lili. Nesse instante, tudo à sua volta silenciou: os grilos calaram-se, o vento parou e até o tempo pareceu ficar sem respiração. Uma voz suave, como o som das folhas ao serem agitadas pela brisa, murmurou-lhe ao ouvido: — Lili, está na hor...
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O conto A personagem entra numa adega escura, tirando as luvas. É difícil adaptar-se à escuridão. Numa noite silenciosa, de lua cheia, com os passos suaves a ecoar no silêncio, Cecília, a filha mais nova da família, entrou na adega escura, com cuidado. Tirou as luvas, depois de ter vasculhado com elas a arca do sal para encontrar a chave que lhe dava acesso à cave, sentindo um calafrio, devido à aragem fria e penetrante do ar que a perturbava. A escuridão dificultava-lhe os movimentos e a cada passo fazia um esforço para se orientar. Os olhos iam-se ajustando lentamente à penumbra, tentando desvendar segredos escondidos entre os pipos, as prateleiras de garrafas antigas e as caixas de madeira. Apesar da ansiedade, ela estava determinada a encontrar, na escuridão, carregada de mistérios, algo que procurava há muito tempo: uma verdade, uma revelação importante relacionada com o passado. Por isso, evitava o cheiro intenso a mosto que invadia o espaço, superando mais esse ...
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Às vezes é no meio de tanta gente que descubro afinal aquilo que sou Sou um grito ou sou uma pedra de um lugar onde não estou (…) Maria Guinot À minha sempre querida, Paula Cristina (nome que simboliza a humildade e a delicadeza de Cristo, do escolhido, do ungido por Deus). De olhar calmo, sem mágoas, sustentado com firmeza, Propensa ao lado lunar, advogada da leveza! É irmã gémea d’ Apolo, Artémis, livre e serena Mulher eterna menina, com frescura d’açucena Nasceu a sete de julho, nativa da intuição, A vida é jornada certa de uma nova lição. Na concha do caranguejo, guarda a ciência do mar, Segredos sempre profundos, atenta vai revelar. Como o seu signo solar, segue com muito cuidado, Protegendo o coração, no seu mundo delicado. Tem uma couraça forte, abrigo da sua essência, Resiste às ondas da vida, com vigor e paciência. É uma amiga querida, em tempos de ventania, Transforma dias cinzentos, com a sua simpatia...
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Poesia ou Prosa? - Foste tu que roeste a meia, Cacau?! Vais ficar de castigo! Desde que foi adotada pela nossa família, a Cacau tem uma predileção por meias e chinelos. Em 2020, em plena pandemia, fomos agraciados com a chegada de uma cadelinha “deliciosa”, um novelo de pelo castanho e branco, muito ciosa das suas funções: ladra, desalmadamente, a quem passa na rua ou a tudo o que mexe. Na altura, tínhamos acabado de adotar uma gatinha que tinha sido resgatada de uma ninhada abandonada. Como eram as duas “minorcas” e tinham de ser separadas do nosso Inspetor “Max”, a quem não agradava muito a partilha de afetos e a convivência com as duas novas intrusas, elas acabaram por partilhar a cozinha, longe do território do nosso cão. Por isso, tornaram-se irmãzinhas inseparáveis: dormiam juntas, partilhavam o pratinho da comida para canídeos e o colinho dos donos. Nessa altura, ainda que os homens de casa estivessem habituados a colocar as meias dentro das sapa...
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Santos populares No mês de junho, anda tudo a correr de romaria em romaria de norte a sul de Portugal. Ou é o Santo António, ou é o São João ou ainda o São Pedro, o certo é que não há desculpa para ficar em casa. Por isso mesmo, a proposta deste desafio é festejar os santos populares e incluir no teu texto as seguintes palavras: sardinha, fogueira, marchas, balões, manjerico e bailarico. Vamos a isto? Na noite de S. João, a casa enche-se de aromas, de cores e de bulício… Na cozinha, as mulheres andam num corrupio e reina aí a confusão: há sardinhas , caldo verde, tomates, pimentos, broa, pão e a carne na grelha será outra opção… O cheiro a alfazema, a manjerico , a hortelã, a cidreira e a alho porro aromatiza os espaços e juntos transportam a memória para o tempo dos avós… Desde cedo, esvoaçam balões coloridos que povoam o céu de luz. Alguns tornam-se estrelas cadentes em chamas de papel. Os foguetes multicolores começam a estrelejar e a cadela, com ...
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Esta é uma narrativa ficcionada, baseada numa situação mais ou menos real, que nos fazia rir, contada pelos meus avós, quando a família se reunia à volta da lareira … QUE GRANDE ALVOROÇO! Certo dia, o ti Manel Aires, que emigrara para França e por lá criara alicerces durante mais de trinta anos, chegou à terra, que o viu nascer, prostrado e cheio de moléstias, pronto para entregar o corpo às ervas daninhas e às raízes das árvores. Como não tinha família direta, porque nunca casara e não tivera filhos, teve de pedir guarida a alguns familiares. O sorteio premiou os sobrinhos em segundo grau Cassiano e Conceição… Estes trataram-no bem com os parcos recursos de que dispunham, mas o certo é que o ti Manel Aires acabou por falecer. Foi premente escolher o local onde iria velar-se o corpo do morto, porque a casa dos sobrinhos era muito estreita e não estava em condições para acolher as gentes da aldeia. Apesar de a morte ser motivo de grande desolação, nas terras curtas e lon...
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No meu provável regresso a África, gostaria de viajar numa moto. Talvez num exemplar semelhante ao da imagem. O meu condutor proporcionar-me-ia o contacto com uma natureza arrebatadora e exuberante e deixar-me-ia usufruir do efeito dos quatro elementos! Um dia…anseio percorrer, contigo, áridos desertos de palmares retilíneos e de tons agrestes. Desejo perder-me nos braços arábicos das gentes de um continente tão cheio de histórias, tradições e mistérios. Imagino-nos a cumprir extensas jornadas por paisagens oníricas, onde o calor intenso se mistura com a força da terra, e cada etapa se revela uma nova descoberta. Tenciono deixar-me conduzir até ao fim do mundo, onde o céu, ao entardecer, se pinta de cores intensas e contemplar a singularidade daquele espetáculo em chamas. Nesse momento, sentirei que o tempo desacelera, e tudo ao redor se torna numa tela vibrante de cor, numa sinfonia de tons dourados e laranjas e vermelhos... Quero revigorar-me no leito das ondas de um mar ...