Ser professora, hoje!


Quando tinha 5 anos gostava de ser cabeleireira ou cantora!

Passava as horas a mexer nos cabelos das amigas da minha mãe que ficavam à conversa nos fins de semana, ou
dava espetáculos à frente dos espelhos lá de casa e no quintal, para a vizinhança.
Aos oito anos, de forma incipiente, revelou-se a minha propensão para ensinar, já que, na minha cabeça inocente de menina, era inconcebível não saber ler nem escrever, como acontecia com as minhas avós, e, desejei mostrar-lhes a magia da descoberta através da leitura…

Esta determinação em tornar-me professora tornou-se mais consistente quando iniciei o ensino secundário e
conheci professoras que marcaram o meu caminho: a professora Maria do Carmo Castelo Branco, a professora Aida Santos e a professora Maria Elisa Gomes da Torre. Seduziram-me as palavras mágicas dos grandes nomes da literatura, a música das aliterações, onomatopeias, assonâncias da linguagem poética, as similitudes, analogias, as relações paradoxais entre a ficção e a realidade vivida.

Em 1990, depois do estágio, iniciei a minha careira de docente e durante 34 anos tenho exercido um “ofício” que tive o privilégio de escolher para a vida.

Tem sido um percurso de infinita aprendizagem, de alegrias, sucessos, sorrisos, algumas mágoas, mas NUNCA arrependimento, porque na escola faço aquilo de que mais gosto: transferir para os outros a verdade intrínseca da pessoa que somos e que nos torna singulares.

Os meus alunos conhecem muito mais de mim do que eu deles! Porém, o pouco que vou descobrindo, de mansinho, faz-me detetar ínfimos retalhos, pegadas, sementinhas que cresceram, de forma especial, nas memórias, nos gestos, nas palavras que exteriorizam.

A escola é um Estado neutro, onde é possível harmonizar rejeições, permutar choros e risos, albergar êxitos e desconcertos, construir sonhos e expectativas, criar projetos e caminhos para (sobre)viver.

Ao longo desse caminho, tive a sorte de conhecer seres tão imperfeitos como eu, na busca de sua verdadeira humanidade, permeáveis à riqueza do contacto com a vida e com os outros.
Todos os meus alunos são únicos, porque são especiais. São um universo de constelações. Saberão brilhar, no presente e no futuro, com a inteireza da sua verdadeira PESSOA!

Muito obrigada por terem contribuído para que o dia de hoje se tornasse especial e eu tivesse motivação para o registo deste texto !!!!

Ermesinde, 15 de janeiro de 2024

Comments

Popular posts from this blog

Em terras ancestrais

Simplesmente Maria

A casa dos avós